O governo Tarcísio alterou o nome do ‘assentamento Che Guevara’, localizado na cidade de Mirante do Paranapanema, no oeste paulista, para “Projeto de Assentamento Irmã Dulce”.
“(É) de notório conhecimento que a Sra. Maria Rita Sousa Brito Lopes Pontes, conhecida como Irmã Dulce, foi uma mulher que dedicou sua vida a obras de caridade, trabalhos sociais e assistência aos mais necessitados, sendo assim uma figura que tanto contribuiu com o país e foi indicada ao Prêmio Nobel da Paz”, justifica o governo.
A alteração foi publicada no Diário Oficial do Estado nesta terça-feira (26), assinada pelo diretor-executivo da Fundação Instituto de Terras do Estado de São Paulo (Itesp), Guilherme Piai. O órgão é vinculado à Secretaria de Agricultura e Abastecimento, e Piai é nascido em Presidente Prudente, a 70 km de Mirante do Paranapanema.
“Antes o nome de um revolucionário cubano. Agora de uma santa brasileira que dedicou sua vida a obras de caridade”, escreveu Piai em suas redes sociais, enaltecendo a troca de nome.
Aquele terreno é simbólico para a esquerda brasileira, pois foi o primeiro do MST no Pontal do Paranapanema, em setembro de 1991. A região é marcada por invasões históricas e tem sido priorizada pela gestão do governador Tarcísio de Freitas na sua política de regularização fundiária.
Aquela área surgiu de uma ocupação de terras no começo dos anos 1990 e hoje conta com 46 famílias, de acordo com o MST, responsável pela iniciativa de mais de três décadas atrás. A organização chamou a decisão do governo paulista de “autoritária e antidemocrática”.
À coluna Roseana Kennedy, no Estadão, o coordenador nacional do MST, João Paulo Rodrigues, diz ter sido pego de ‘surpresa’: “Vamos tomar todas as medidas possíveis, fazer um documento oficial com as assinaturas de todas as famílias que moram no assentamento e fazer um pedido oficial ao ITESP, à Secretaria de Agricultura e ao secretário (de Governo) Gilberto Kassab. Também estamos estudando medidas jurídicas que possam ser tomadas.
“Che Guevara é precursor de lutas socialistas e símbolo de organização de massas pela mudança da realidade de exploração sob a qual os mais pobres vivem. É com base nessas ideias que as famílias de trabalhadores e trabalhadoras sem terra possuem identificação política com o legado de Che Guevara, que inspirou a nomeação do assentamento logo e inspira a luta pela continuidade da melhores condições de vida no campo até os dias de hoje”, escreveu o MST em seu site.
A decisão de batizar o local com o nome de um dos líderes da Revolução Cubana partiu de militantes do próprio MST quando da fundação do assentamento. Ao justificar a mudança, Bressanin afirmou que Irmã Dulce “foi uma mulher que dedicou sua vida a obras de caridade, trabalhos sociais e assistência aos mais necessitados, sendo assim uma figura que tanto contribuiu com o país e foi indicada ao Prêmio Nobel da Paz”.
O líder do MST João Paulo Rodrigues disse que vai colher assinatura dos integrantes para apresentar um documento formal ao Instituto de Terras e às Secretaria de Agricultura e de Governo. O MST também avalia quais medidas jurídicas podem ser tomadas para rechaçar a decisão.