O ex-policial militar Ronnie Lessa contou em sua delação premiada que pesquisou locais para executar a vereadora Marielle Franco enquanto bebia uísque com um amigo, o advogado André Luiz Fernandes Maia, conhecido como Doutor Piroca. O encontro ocorreu dois dias antes das mortes na noite de 14 de março de 2018.
De acordo com relatório da Polícia Federal sobre o caso, Lessa afirmou que, na ocasião, estava “obcecado em encontrar uma alternativa viável” para a execução e, por isso, passou a estudar o endereço em que a vereadora morava “com afinco”, enquanto estava na companhia do advogado, morto 29 dias depois do assassinato de Marielle e do motorista Anderson Gomes.
De acordo com colegas de profissão de André Luiz Fernandes Maia, o apelido ‘Doutor Piroca’ fazia referência à expressão “piroca das ideias”, no sentido de “doido”. A reportagem apurou que, no meio profissional, ele era tido como “marrento”, se envolvia em brigas e tinha o costume de andar armado.
Quando foi morto, em 12 de abril de 2018, respondia pelos crimes de ameaça e estelionato. Ele já tinha sido condenado, em julho de 2014, pelo crime de coação no curso do processo e cumpriu um ano de prisão em regime aberto. A reportagem não localizou representantes de Maia.
Na ocasião, a Polícia Civil do Rio concluiu que o homicídio foi motivado por dívidas com a milícia. O caso foi denunciado pelo Ministério Público. Um suspeito do crime, apontado como integrante do grupo paramilitar do Anil, foi preso em Miguel Pereira, no interior do estado, em agosto de 2021.
Lessa, que é réu confesso, fechou um acordo de delação premiada com a Polícia Federal e apontou outros três suspeitos de envolvimento no assassinato de Marielle e Anderson, além da tentativa de matar a assessora Fernanda Chaves.
Na manhã deste domingo (24), a PF deflagrou a operação Murder Inc. e prendeu o deputado federal Chiquinho Brazão, o conselheiro do TCE-RJ (Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro) Domingos Brazão e o delegado Rivaldo Barbosa, ex-chefe da Polícia Civil no Rio.
No despacho que autorizou a prisão, o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes afirma que a “divergência política em relação à regularização fundiária de condomínios da zona oeste do Rio” está por trás das motivações do crime.